Primeiro ciclo de conferências em Psicologia celebra convênio com universidade uruguaia
Publicada em 08/03/2024
Serão quatro palestras ao longo do ano; inscrições já abertas
O Grupo Interinstitucional de Historiografia e Política da Psicanálise () divulgou a programação de seu primeiro ciclo de conferências. Os eventos acontecem de março a junho deste ano, em formato on-line, com emissão de certificado, e são abertos ao público. As inscrições, prévias e gratuitas, devem ser feitas .
O professor do Departamento de Psicologia (DPSIC), Fuad Kyrillos Neto, explica que a ideia do evento surgiu da constatação da importância de alunos, profissionais e pesquisadores assimilarem a importância do conhecimento da história do movimento psicanalítico brasileiro para sua formação como analistas. “Partiu-se do princípio de que o psicanalista, para constituir uma agenda clínica e intelectual com relativa autonomia, deve se posicionar politicamente frente aos desafios de seu tempo. O esquecimento da história das gerações anteriores compromete a prática reflexiva, deixando os analistas na posição de repetidores da teoria”, afirma o professor.
Programação
Rafael Alves Lima é o primeiro convidado desse primeiro ciclo, com o debate Por que a história da Psicanálise? A conferência está marcada para a última quarta-feira de março, 27, às 14h, na sala de 2.48 (Sala de Peteca), do Campus Dom Bosco. Doutor em Psicologia Clínica pela USP, onde é colaborador no Instituto de Psicologia (Departamento de Psicologia Social e do Trabalho), Rafael – pesquisador do GIHPP – é autor do livro Por uma historiografia foucaultiana para a Psicanálise: o poder como método. As inscrições para essa palestra já estão abertas.
Em abril, no dia 17, o professor Pedro Eduardo Silva Ambra vai falar sobre Psicanálise e Política: questão de gênero e raça. Pedro leciona Psicologia na PUC-SP; é professor colaborador e orientador de mestrado e doutorado na pós-graduação em Psicologia Social da USP. Pesquisador associado do Centre de Recherches Psychanalyse, Médecine et Société (Universidade de Paris), Pedro Ambra também é membro da International Society of Psychoanalysis and Philosophy (ISPP).
No dia 15 de maio, Gabriel Tupinambá vem discutir Política e Psicanálise: a formação do analista. Atualmente pesquisador de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ, Gabriel é psicanalista e coordenador do Círculo de Estudos da Ideia e da Ideologia.
O encerramento, em 19 de junho, está a cargo do uruguaio José Guillermo Milán-Ramos, com o tema Fala e escrita na transmissão da Psicanálise. Doutor em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é professor agregado no Instituto de Psicologia Clínica da Facultad de Psicologia, Universidad de la República (UDELAR), a única instituição de ensino superior pública do Uruguai, recentemente conveniada com a Â鶹ÊÓƵ [leia mais em Parceria internacional].
O professor Marcelo Gambini, também da UDELAR, integra o corpo de pesquisadores do Grupo.
GIHPP
O Grupo Interinstitucional de Historiografia e Política da Psicanálise é uma equipe de pesquisa composta por um coletivo interdisciplinar que visa à produção do conhecimento em parceria, identificando-se pela possibilidade de compartilhar problemas, experiências e objetivos comuns. Fazem parte desses objetivos: a discussão das relações da Psicanálise com a História, a Teoria Social e a Linguística, e seus impactos éticos e políticos na Psicanálise em extensão e intenção.
As linhas de pesquisa trabalhadas envolvem considerações psicanalíticas sobre eventos sociais e seus impactos subjetivos e reflexões sobre a inserção e a institucionalização da Psicanálise no Brasil. No site do GIHPP está disponível acervo de livros, artigos e documentários do grupo, além de um .
Levando-se em conta a tradição do ensino da Psicanálise na Â鶹ÊÓƵ, o GIHPP vem pensar criticamente a práxis e a formação da disciplina, tomando como princípio a história da institucionalização do lacanismo no Brasil e seus entraves. Sem perder de vista a relevância do aspecto político, o que evita elaborações alienadas do percurso histórico, ao mesmo tempo em que estimula a inovação (elaborar e fazer algo novo).
Parceria internacional
A ideia de um convênio entre Â鶹ÊÓƵ e UDELAR nasceu do objetivo comum das duas instituições em ampliar os índices de internacionalização de suas produções acadêmicas. Um convite do professor José Guillermo Milán-Ramos para que o professor Fuad Kyrillos fizesse parte do grupo de pesquisa Construção das práticas psicoterapêuticas no Uruguai – ação psicoterapêutica, transformação subjetiva e social. Terceira etapa: 1985-2011, foi o ponto de partida para essa nova parceria internacional.
O interesse em estudar a historiografia e a política da Psicanálise desponta como uma das estratégias para a formação de futuros psicanalistas, ao incentivar análises que levem ao aprimoramento da visão crítica das práticas psicanalíticas na contemporaneidade. De acordo com o pesquisador da Â鶹ÊÓƵ, “evitamos assim equívocos já registrados na própria institucionalização da Psicanálise, como condutas discriminatórias e até segregatórias”, avalia Fuad.
Esse convênio tem um valor especial para a Â鶹ÊÓƵ. O curso de Psicologia, que completou cinco décadas em 2022, trata, em uma de suas linhas de pesquisa, dos atravessamentos políticos e coloniais na institucionalização do lacanismo no Brasil. Em visita à universidade uruguaia em novembro do ano passado, o professor Fuad pode observar que o país vem passando por alguns fenômenos de organização política do lacanismo muito próximos aos que o Brasil enfrentou nos anos 1985: a institucionalização do lacanismo com forte centralidade francesa. Como consequência, há uma certa restrição às interpretações e entendimentos locais dos conceitos psicanalíticos. “É como se toda a conceituação e aplicação dos conceitos tivessem que ser, forçosamente, ditada pelos franceses. Qualquer interpretação próxima à realidade local, à cultura local, aos impasses locais, diminuiriam o valor da conceituação lacaniana. Esse fenômeno mostra a importância dessa parceria Sul-Sul, pois são dois países periféricos que passam por situações muito semelhantes.”