Artigo discute movimento das onças-pintadas no meio ambiente
Publicada em 17/08/2021
O professor do Departamento de Ciências Naturais da Â鶹ÊÓƵ (Dcnat), Fernando César Cascelli de Azevedo, é co-autor de artigo publicado na revista internacional Current Biology, o qual discute aspectos do movimento no meio ambiente do maior felino do continente americano, a onça-pintada. Fernando Azevedo integra uma rede internacional de pesquisadores de países das três Américas e europeus, que investiga, entre outros temas, os hábitos do felino e seu modo de vida, com vistas à preservação da espécie. O grupo, que reúne biólogos e profissionais de áreas afins, elaborou e publicou recentemente o artigo Fatores ambientais e antrópicos afetam de forma simultânea o uso do espaço por onças-pintadas.
Segundo o pesquisador da Â鶹ÊÓƵ, a mesma rede publicou, há alguns anos, artigo inédito sobre dados de monitoramento, via coleira com GPS, de onças-pintadas. “Todos os pesquisadores contribuíram para esse primeiro artigo da rede”, explica. Com a difusão deste, outros artigos, mais específicos, foram gerados; entre eles, o que foi publicado pela Current Biology.
Pesquisa
A onça-pintada é o terceiro maior felino do planeta. Maiores que ela somente o leão e o tigre, que são característicos de outros continentes. O felino pode ser encontrado desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina. No Brasil, não se sabe o número exato de onças porém, estudos indicam que na região da Mata Atlântica existam cerca de 300 animais.
O objetivo maior da pesquisa que originou o artigo foi entender como a onça-pintada se movimenta não só no local específico onde sobrevive – por exemplo, no Pantanal brasileiro ou na Amazônia – mas em toda a sua distribuição geográfica, analisando como utiliza o meio ambiente em que vive, com ênfase nos movimentos do animal. “Para tanto, foi necessário um extenso banco de dados, cobrindo todas as regiões, o que foi viabilizado pela rede de pesquisadores”, explica Fernando Azevedo.
Segundo ele, o banco de dados contém informações de monitoramento via GPS de 111 onças que vivem em 13 regiões do continente americano. “Esse é o maior esforço já feito para aglutinar informações sobre onças-pintadas e seus movimentos. A partir desses dados, os pesquisadores da rede participaram da escrita e análise dos dados”, revela o professor da Â鶹ÊÓƵ. “Investigamos o movimento, quanto andam, as distâncias, a velocidade dos deslocamentos, o tamanho do território delas, enfim, todas as características em relação a fatores ambientais e antrópicos, ou seja, aqueles causados pelo homem, que atingem diretamente a sobrevivência do animal”, detalha.
Territórios
A pesquisa mostrou que o tamanho do “território” das onças diminui em função da cobertura florestal e da “produtividade” de comida no ambiente. “Quanto mais floresta e comida tiver para a onça, menor o tamanho de seu território”, destaca o professor Azevedo, acrescentando que “o mais interessante do trabalho foi que a equipe conseguiu observar isso de forma padronizada, em todas as regiões onde as onças-pintadas vivem.” Além disso, o estudo provou que a densidade de estradas rodoviárias interfere na sobrevivência das onças. As estradas atrapalham os animais, pois estes têm necessidade de aumentar seu território para encontrar comida e parceiros, ou seja, viver e sobreviver. Assim, o estudo concluiu que alguns fatores afetam o uso do espaço de forma padronizada pelas onças-pintadas, independente da região em que se encontrem.
Conservação
De acordo com Fernando Azevedo, doutor em Ecologia, os principais desafios para a conservação dessa espécie de felino são a redução dos desmatamentos e de alterações nas áreas onde vivem, bem como o combate à caça do animal.
O professor ressalta que a rede da qual faz parte ainda produzirá outros estudos no sentido de “avançar muito o nosso conhecimento sobre a onça-pintada, ajudando na conservação do animal e no estabelecimento de políticas públicas pela manutenção desse carnívoro que é tão importante para as matas e ambientes nativos no Brasil.”
A onça-pintada está no topo da cadeia alimentar. “Costumamos dizer que, onde existe onça-pintada, significa que todos os animais abaixo dela estão preservados. O ambiente é saudável, pois o predador de todos está presente. Onde não há, e deveria haver, indica perda de qualidade ambiental”, compara.