Exposição desvela memórias da infância na zona rural de SJDR
Publicada em 05/11/2021
Era uma vez uma menina que tinha um avô muito bonzinho. Certa vez ele ganhou, num sorteio, uma máquina de fotografias. Então esse avô começou a fotografar tudo o que via de bom e bonito, principalmente as crianças do local onde morava, a Colônia José Teodoro, na periferia de São João del-Rei. As fotos ficaram guardadas por muitos anos numa caixa de papelão. Depois da morte do avô, a vovó sempre mostrava as fotos para seus netinhos. Ela, a menina, via aquilo com muito interesse. Muito tempo depois, a menina foi estudar na Universidade e, naquela “caixa de memórias”, encontrou material de pesquisa para seu trabalho de conclusão do curso de Pedagagogia, para sua dissertação de mestrado em Educação e até para uma exposição virtual com as fotografias que o vovô um dia fez com tanto amor. Fim.
O trecho acima parece estória infantil, mas é real: a protagonista se chama Virginia Aparecida Ambrosio. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Â鶹ÊÓƵ (PPGEDU), com dissertação recentemente defendida, ela agora prepara a estreia, nesta sexta, 5, da exposição virtual Fotos e memórias de infância.
A mostra conta com parceria do Museu Regional de São João del-Rei e terá a curadoria da professora do Departamento de Ciências da Educação (Deced), Christianni Cardoso Morais, que foi orientadora dos trabalhos de pesquisa de Virginia. “É um material muito bonito, rico e interessante”, afirma Christianni. A exposição compõe-se de fotografias selecionadas a partir da pesquisa em torno das fotos de seu avô, João Costa (1923-2012). São cenas de passeios, crianças brincando, celebrações familiares, como as primeiras comunhões na Colônia José Theodoro, formada por descendentes de imigrantes italianos. “A maior importância dessa exposição é revelar uma representação da infância entre os anos 1960 e 1970, pela qual se pode discutir a religiosidade, as brincadeiras e até as dificuldades para estudar, uma vez que na Colônia não havia escola”, avalia a curadora. O internauta poderá também ler poemas escritos por Virginia sob inspiração dos registros fotográficos do “vovô João”.
Documento e patrimônio
Fascinada por essas fotos desde a infância, Virginia jamais pensara “que poderiam se tornar história, documento.” Até que, em 2018, seu olhar científico foi despertado pelo acervo familiar.
A abertura da exposição é para ela um sonho. “Inicialmente, pensamos em fazer no Museu Regional, o que foi inviabilizado com a pandemia. Agora, vamos lançar o material virtualmente, podendo atingir um público maior.” A série de poemas que escreveu resgata história e memória. “Nunca conversei com meu avô sobre essas fotos enquanto ele estava vivo. Então, fiz poemas pelos quais tento estabelecer esse diálogo que nunca aconteceu”, explica.
Virgínia ressalta que, em todo o processo de pesquisa, um aspecto que chamou sua atenção foi o poder desse arquivo familiar enquanto História. “Quantas coisas importantes ainda estão guardadas por aí e as pessoas não descobriram ?”, indaga.
Nesta perspectiva, de revelar imagens e memórias familiares, o projeto passou a receber fotos antigas cedidas por são-joanenses, a fim de ampliar o acervo para pesquisas futuras. “Nossas fotos de família são também um patrimônio coletivo, que precisa ser divulgado. A exposição é interativa, por isso estamos convidando pessoas a um diálogo para futuras entrevistas, levantamento de mais fotos de infância e coleta de depoimentos de quem quiser participar”, informa a professora Christianni.
Abertura
A abertura da exposição faz parte da programação da . Nesta sexta, 5, às 21h, mesa virtual reúne Virginia Ambrosio, as professoras Giovana Scarelli (Deced) e Monica Jinzenji (UFMG), a responsável pelo setor educativo do Museu Regional, Ana Maria Nogueira Oliveira, e a curadora Christianni Cardoso Morais, que fará a mediação do debate.
Fotos e memórias de infância pode ser visitada em .