Â鶹ÊÓƵ

Ailton Krenak na abertura do II Seminário do PPEDU

Publicada em 24/11/2021

O Programa de Pós-Graduação em Educação da Â鶹ÊÓƵ (PPEDU/Â鶹ÊÓƵ) marcou o início de seu “II Seminário de Pesquisa e Avaliação” nesta segunda, 22, com o cerimonial de abertura “Educação e a produção de um novo normal: servidão voluntária”, que teve como convidado o escritor Ailton Krenak, um dos mais importantes nomes do ativismo socioambiental e de defesa dos direitos indígenas.

Em nome da coordenação do PPEDU, a professora Maria do Socorro Nunes abriu sua fala chamando a atenção para os dois anos de isolamento, em decorrência do contexto pandêmico, que afetou drasticamente o ensino e pesquisa no Brasil, seja pelas dificuldades do modelo remoto, seja pelos cortes de verbas na área da educação. Nunes destacou, ainda, a crise humanitária que se instalou no país nos últimos anos, que atinge especialmente os povos negros e indígenas, vítimas constantes da brutalidade e descaso estatal.

Na sequência, o convidado Ailton Krenak relembrou a memória de Paulo Freire, cujo centenário foi comemorado neste ano, e avaliou a educação como ferramenta principal de transformação da realidade, sobretudo em países periféricos como o Brasil. Aliás, a escolha do tema da cerimônia de abertura foi do próprio Krenak: “Nessa perspectiva, [devemos] pensar a educação como uma tarefa social ampla, que não é só o trabalho do professor”, destaca.

Ailton enfatizou a desigualdade social que impera no Brasil, chamando a atenção para como nosso processo histórico, ao longo dos séculos desde a colonização, inviabilizou o acesso ao ensino para determinados grupos sociais, via de regra, negros e indígenas - e que, até hoje, não possuem acesso pleno, se comparado à outros grupos não marginalizados. Por isso a imperativa necessidade de não permitir que a educação faça parte da dinâmica desse sistema, que reproduz a segregação e fomenta as desigualdades: esta seria a servidão voluntária cunhada por Krenak.

O ativista lança luz para como o Estado encara o ensino e a educação, muito mais como “um campo de negociação política do que uma prioridade”. A “reprodução do novo normal”, portanto, vem daí: quando a educação é utilizada como instrumento de reprodução de injustiças sociais, em vez de tentar combatê-las. Nesse sentido, Krenak defende um investimento contínuo no campo educacional, de modo a formar educandos e educadores conscientes sobre a realidade brasileira, essencialmente desigual, e capazes de atuar para a transformação desse status quo.

Ao final da conferência, Ailton provoca uma reflexão: “que tipo de escola nós queremos ver?”. À vista que a pandemia modificou profundamente a maneira como o ensino é aplicado, este seria um momento ideal, segundo o convidado, para refletirmos sobre as atuais práticas escolares, que, ao fim e a cabo, reproduzem a ordem capitalista, neoliberal e eurocêntrica, impossibilitando a verdadeira transformação social. Krenak se despede com uma mensagem: “enquanto houver taquara, a gente tem que mandar flecha”.

A íntegra do cerimonial de abertura está disponível na